Em sua edição do último dia 10 de abril o periódico londrino The Guardian publicou um corajoso e exemplar texto assinado por Stephen Buranyi relacionado à difícil missão que hoje tem a Organização Mundial da Saúde de coordenar o esforço global diante da emergência de um novo e até aqui incontrolável vírus – o Covid-19.
Vitor Pinto (escritor, Doutor em Saúde Pública)
Foto de Martin Sanchez em Unsplash.
O texto de Buranyi abrange as múltiplas faces do problema. Coincide com impressionante precisão, quanto à linha de raciocínio seguida e pelo seu conteúdo, com as várias análises que temos escrito para Mundo Século XXI desde que a candidatura de Tedros Gebreyesus, apesar de seu terrível histórico de direitos humanos na Etiópia – de onde é originário – foi lançada, até transformá-lo no novo Diretor Geral da OMS em substituição à chinesa/canadense Margaret Chan.
Naturalmente, graças à competência do articulista e ao seu amplo acesso às informações em Genebra, é mais detalhado e completo. Um texto longo, competente, onde todos os aspectos significativos estão referidos:
a) debilidade da OMS que não tem mecanismos nem força para impor suas orientações; o orçamento insuficiente;
b) sustentação econômica instável por um gigante financeiro (os EUA) e um milionário;
c) iniciativas dispersas com centenas de pequenos projetos e programas que levam a Organização à falta de foco e a ter de privilegiar os desejos e ênfases dos doadores;
d) tentativa fracassada de executar políticas globais em um mundo que prioriza políticas unitárias/nacionalistas;
e) falta de uma chefia carismática e tecnicamente respeitada, o que vem desde o mandato recente da chinesa/canadense Margaret Chan e que nunca chegou aos pés dos tempos de comando da norueguesa Gro Brundtland;
f) inadequação do Gebreyesus para o posto, eleito que foi com a noção de que era preciso fazer frente às influências de EUA e do Reino Unido (cujo candidato, David Nabarro, mil vezes mais competente, chegou à disputa final mas foi derrotado com uma campanha de desmoralização dos ingleses em tempos de ódio e temor ao Brexit);
g) escolha de um burocrata pertencente à velha máquina da OMS e com péssimo histórico de direitos humanos por pertencer a uma etnia minoritária e opressora das maiorias em seu país, a Etiópia, quando ele era seu ministro de Rel. Exteriores;
h) eleição de Tedros com apoio dos países africanos (o Brasil votou em Tedros) sustentado pela China;
i) vassalagem do atual diretor à influência chinesa, embora isso não signifique que a política para o Covid-19 esteja errada;
j) inviabilidade prática de que a OMS de fato consiga liderar todo o processo mundial de enfrentamento à atual pandemia, exato no momento em que essa liderança é mais necessária.
Sabedor das debilidades intrínsecas da OMS, Trump atacou, fazendo descarada política ideológica num ponto crítico do avanço do novo coronavírus (inclusive em seu país, já o mais atingido pela pandemia).
Segue o texto publicado pelo The Guardian: