Holanda derrota populismo

março 13, 2017.

[caption id="attachment_858" align="alignright" width="170"] Recep Erdogan, o novo sultão otomano[/caption]

Parecia incrível que a Holanda, um dos países mais desenvolvidos e democráticos do mundo, estivesse à beira de proporcionar a um populista de extrema direita, Geert Wilders do Partido para a Liberdade (PVV) a possibilidade de formar o próximo governo. O sistema é parlamentarista e 150 cadeiras estiveram em jogo nas eleições desta 4a. feira, 15 de março. O favoritismo inicial do ultradireitista esvaiu-se nos três últimos dias e o atual 1º Ministro, Max Rutte do Partido para a Liberdade e a Democracia (VVD), de centro-direita, conseguiu uma vitória consagradora considerando o multipartidário sistema político holandês, hoje com 28 Partidos, dos quais 14 obtiveram participação no Parlamento.

Contrariando as previsões de vésperas que anunciavam um virtual empate entre Rute e Wilders, o resultado ainda preliminar, mas já seguro, mostra o seguinte quadro segundo o número de cadeiras de cada partido (entre parêntesis a situação com base na eleição de 2012): Centro-direita do VVD 33 (41) – Ultra direita do PVV 20 (15) - Trabalhistas do PvdA 9 (38) - Socialistas do SP 14 (15) - Cristãos-democratas do CDA 19 (13) – Democratas do D66 com 19 (12) – Esquerda com os Verdes do GL 14 (4) - Cristãos unidos 5 (5) – Outros 5 partidos menores 17 (7).

A queda maior foi dos trabalhistas que governaram junto com Rutte nos últimos anos e o grande salto avante coube aos Verdes. Como de costume, o novo governo será de coalizão, reunindo VVD, CDA, D66 e PvdA que em conjunto detém 80 cadeiras ou 53% do total.

Dois grandes temas dominaram os debates: Imigração e Identidade Nacional. Mesmo os partidos tradicionais que governam o país desde o fim da 2a. Guerra e a esquerda têm propostas nacionalistas, como a restrição da movimentação de trabalhadores estrangeiros, um dos pilares da União Europeia. Wilders mesmo que vencesse não conseguiria governar, pois nenhum dos demais partidos desejava previa juntar-se a ele, por suas propostas radicais que além das posições nitidamente antissemitas previa banir a migração vinda de países muçulmanos, fechar as fronteiras e as mesquitas, banir o Corão, abandonar a União Europeia e o Euro. O pleito holandês deve influenciar as votações europeias deste ano na Alemanha, França e Hungria.

Um fator de última hora surgiu com as ofensas proferidas por Tayyp Erdogan, o ditador turco que deseja aumentar seus poderes por meio de um plebiscito nacional. Numa reação desmedida chamou o governo holandês de nazista e anti-islâmico por ter impedido a entrada de dois ministros turcos cujo objetivo era fazer um comício para a numerosa comunidade otomana que vive em Rotterdam. A legislação holandesa proíbe a realização de manifestações políticas de apoio a temas de interesse interno de outros países. Isso ocorreu também em outros estados europeus, mas Erdogan - hoje um aliado do líder russo Vladimir Putin -, interessado em desestabilizar ao máximo a União Europeia, não por acaso escolheu a indecisa Holanda para seus ataques. O resultado das urnas, contudo, ao invés de dar um derradeiro e decisivo apoio a Geert Wilders, na prática decretou sua desgraça.

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