Vinhos brasileiros

dezembro 29, 2016.

Depois da tormenta as nuvens se vão e o sol volta a brilhar no tempo certo, enchendo de esperança os teimosos vinicultores gaúchos que nunca desistem de enfrentar o clima que se vinga volta e meia infernizando seus parreirais. Quando tudo vai bem, é uma colheita ótima, duas razoáveis e duas ruins, reza a tradição. E no Brasil o governo ao invés de ajudar a quem trabalha, como seria sua obrigação, sempre que pode cria mais problemas. Ultimamente é o que tem feito com assustadora frequência. Primeiro o clima, que atravessou o período da safra 2015/2016 com um mau humor como há muito não se via. No inverno não fez frio suficiente e as plantas naturalmente decidiram brotar bem menos do que deviam; na primavera de repente cinco dias de frio intenso com geadas e granizo, para em seguida trazer chuvas extemporâneas em demasia para – de acordo com Mauro Zanus da Embrapa Uva e Vinho – prejudicar a fecundação das flores e ralear os cachos. Pior foram as novas chuvas do finzinho do ano que impediram o acúmulo de açúcar nos bagos que haviam resistido às doenças multiplicadas graças à intensa umidade no tempo errado. O resultado foi uma quebra de 50% na safra e, pelo reduzido teor de açúcar, vinhos de menor qualidade sendo rejeitados pelos compradores. A culpa é do processo de mudança climática e do El Niño, mas também é da falta de apoio e dos novos tempos em que a juventude não quer mais ficar na lavoura, preferindo tentar a sorte nas cidades. Há poucos anos, o mau tempo e as pragas atacaram os vinhedos argentinos causando fortes prejuízos aos agricultores. O governo, na época era Cristina Kirchner a presidente, reagiu rápido: declarou o vinho Producto Nacional e concedeu créditos bancários para que os viticultores pudessem resistir e esperar pela mudança de humor de São Pedro. Aqui, o que aconteceu? Coincidentemente, a administração de Dilma Rousseff suspendeu os 60% de subvenção do seguro da uva, recusou-se a atender a reiterada reivindicação de reduzir pela metade o IPI do vinho e aumentou a taxa de R$ 0,73 para cada garrafa de vinho para absurdos 10%. Também não abriu qualquer exceção na política de créditos, sufocando ainda mais um setor que luta duramente para superar a forte e qualificada concorrência internacional. Felizmente o tempo mudou e a safra 2016/2017, ao que tudo indica, será ótima! Desta vez predomina o La Niña, aquecendo as águas do Pacífico e produzindo um verão mais seco no Rio Grande do Sul, o que favorece a colheita (começa em janeiro) com a promessa de uma safra de 700 milhões de quilos, restaurando o padrão normal do setor. O inverno foi bom e neste final de ano as chuvas se comportam favoravelmente, alternando semanas de estiagem com as garoas, de modo a assegurar uma concentração de açúcares ideal para as uvas. Apesar do câmbio, da falta de crédito e da crise econômica, a viticultura nacional persiste e se qualifica. O país hoje conta com seis zonas qualificadas com Indicação de Procedência (IP) certificada pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial. A primeira delas, o Vale dos Vinhedos já alcançou uma categoria superior: desde 2012 seus produtos obtiveram a marca de Denominação de Origem (DO). As demais, todas IP, são Pinto Bandeira, Farroupilha (uvas moscatel), Monte Belo (só vinícolas familiares, junto de Bento Gonçalves), Altos Montes (região de Flores da Cunha e Nova Pádua) e a única fora do Rio Grande, Vales da Uva Goethe com base em Urussanga, terra de colônia italiana no litoral sul de Santa Catarina.

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