O improvável terrorismo brasileiro

julho 23, 2016.

Depois de comer muita poeira pela longa estrada de terra, os agentes da Polícia Federal localizaram a casinha onde Israel Pedra Medeiros mora com a família na Colônia de Açoita Cavalo, município gaúcho de Morro Redondo (pouco mais de 6 mil habitantes, próximo a Canguçu). Chegaram com as algemas preparadas, prontos para o que desse e viesse. “Onde estão os explosivos e os armamentos? Qual é o Plano?” “Não tem plano nenhum”, respondeu o rapaz, que usava o celular para vender as galinhas criadas no minúsculo sítio e ultimamente dera para ler mensagens de propaganda em português do Estado Islâmico enviadas pelo grupo Nashir via aplicativo Telegram (o mesmo usado pelo terrorista francês Maxime Hauchard avisando: “Brasil, você é o nosso próximo alvo”).

[caption id="attachment_3151" align="alignright" width="300"]Maxime Hauchard, francês e autor de vídeos de propaganda do EI Maxime Hauchard, francês e autor de vídeos de propaganda do EI[/caption]

Não se deve brincar com terroristas, reais ou potenciais, mas apesar de todo o barulho feito pela PF e logo pelo ministro da Justiça nos últimos dias, os nossos militantes islâmicos ligados ao Estado Islâmico (EI) permanecem implausíveis. Já foram detidos onze possíveis “implicados”, espalhados por nove estados, mas não formam uma célula orgânica e nem podem ser caracterizados como “Lobos Solitários”, a marca criada pelos americanos (com base no livro The Lone Wolf de 1914 e na série homônima para a TV dos anos 50) para os que atuam isoladamente. O ministro paulista Alexandre de Moraes classificou-os como “amadores”, na certa se considerando um profundo conhecedor do tema. Um foi pego em Cabedelo, na Paraíba depois de assistir ao por do sol ao som do bolero de Ravel na praia do Jacaré, outro é cearense, um terceiro é maranhense e vive em São Paulo onde se proclama Emir da “Sociedade Islâmica do Maranhão”. O grupo Ansar-al-Khilafah Brazil (Tropas do Califado no Brasil) jurou, também pelo Telegram, fidelidade ao líder máximo do EI, Abu Bakr al-Baghdadi.

Em geral, as reações dos órgãos de segurança nacionais não transmitem a necessária confiança à população, a começar pela operação da PF, intitulada "Jogo da Velha” (em inglês, como está na moda: Rashtag). Um especialista na área, Walter Maierovitch expôs ao jornal O Povo de Fortaleza uma curiosa teoria, de que “o grupo (dos terroristas) poderia fazer parte do legado aqui deixado por Osama Bin Laden”. Com larga repercussão circula o site “#SeOEstadoIslamicoAtacar”, dando vaza ao costumeiro humor dos internautas, uns querendo dar a Dilma de brinde, outros afirmando que o EI iraquiano teria emitido uma declaração isentando-se de qualquer responsabilidade em relação ao suposto movimento no Brasil.

Tudo isso não diminui o medo geral em torno dos Jogos Olímpicos que começam em 5 de agosto, um evento com enorme difusão global a ser transmitido para milhões de telespectadores em 220 países. O jornalista britânico Misha Glenny que chegou a morar na favela da Rocinha e escreveu o livro “O dono do morro” disse que as Olimpíadas no Rio serão uma grande oportunidade para os vendedores de drogas e para os trombadinhas. Ou seja, fora disso espera-se que a situação se mantenha sob controle. (VGP)

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