Brexit e a Saúde na Europa

junho 10, 2016.

A Unidade de Inteligência do The Economist acaba de publicar um estudo intitulado Healthcare markets in Europe: What would be the impact of Brexit? - Mercados de atenção à saúde na Europa: quais seriam os impactos do Brexit (Saída do Reino Unido da União Europeia)?

O estudo tem seis sessões: 1 Foreword -  2 Introduction - 3 Health spending and investment - 4 The skills question - 5 The regulatory impact - 6 Conclusion.

MUNDO SÉCULO XXI apresenta, a seguir, o texto em português em tradução livre da Introdução e das Conclusões. Leia, ao final, comentários deste Site a respeito do tema.

O conteúdo integral, em inglês, pode ser acessado em: https://www.eiu.com/healthcare Annie Pannelay, Principal, EIU healthcare Ana Nicholls, Managing editor, EIU industry briefing Foreword Healthcare markets in Europe: What would be the impact of Brexit? © The Economist Intelligence Unit Limited 2016

[caption id="attachment_3033" align="alignleft" width="300"]A dúvida dos britânicos: BREXIT - In or Out (Stock Photo, 05/2016) A dúvida dos britânicos: BREXIT - In or Out (Stock Photo, 05/2016)[/caption]

HEALTHCARE MARKETS IN EUROPE - WHAT WOULD BE THE IMPACTS OF BREXIT?

Introdução

Um referendo para decidir se o Reino Unido (RU) deveria sair ou permanecer na União Europeia (UE) será realizado dia 23 de junho de 2016. A maior parte do debate está focado nas implicações econômicas e políticas, incluindo a necessidade de negociação de acordos comerciais, livre movimentação de trabalhadores e a possível renúncia do 1º Ministro.

Todos esses temas terão fortes efeitos para os cuidados à saúde, um setor de suprema importância nacional no qual a União Europeia joga um papel fundamental. The Economist Intelligence Unit Healthcare analisa como uma saída da UE poderia afetar por inteiro o ecosistema do setor saúde. Nós estabelecemos as implicações para todos os setores, desde pesquisa&desenvolvimento à área de medicamentos e de prestação de serviços, observando os efeitos nos gastos com saúde, no comércio e investimentos em medicamentos, regulamentações e recrutamento de RH no Sistema Nacional de Saúde e nas empresas.

Da mesma forma que muitos que atuam no setor saúde e na indústria farmacêutica, concluímos que existem riscos substanciais para o setor da saúde se o RU abandonar a UE.  Apontando em detalhes tais riscos, e estabelecendo a ligação entre macroeconomia e tendências econômica, discutimos o assunto com especialistas em atenção à saúde da EIU. Ao longo dos últimos anos integramos dois consultores especializados - Clearstate, uma visão do mercado de saúde, e Bazian, um consultor ligado à área clínica com enfoque na medicina baseada em evidências - à nossa equipe de analistas políticos. O resultado é uma prática que proporciona estudos customizados, análises e aconselhamento à indústria assim como a organismos públicos e organizações não lucrativas nas seguintes áreas: estudos I Commerce, I soluções baseadas em evidência, previsões econômicas e análises políticas, I marketing e comunicações.  pesquisas

** Conclusões**

A atenção à saúde é um setor de suprema importância nacional, ademais de se constituir em um foco no qual a Unidade de Inteligência do The Economist joga um papel relevante. No momento seguinte à votação do Brexit em 23/6/16, as mudanças para o Sistema Nacional de Saúde britãnico (NHS) e para a existência das ciências da vida poderão não ser dramáticas.

As principais preocupações estarão voltadas para as confusões do mercado e para o impacto político, incluindo a possível saída do 1º Ministro, enquanto sob os panos os negociadores poderiam começar com a tarefa urgente de renegociar os relacionamentos do RU com a União Europeia. Ao longo dos próximos dois anos, o sistema de saúde em seu todo seria impactado em vários níveis:

* Qualquer depressão na economia britânica poderia trazer um consequente baque no orçamento em saúde do RU. Mesmo se os ganhos a partir das contribuições do RU ao orçamento da UE forem realocados à saúde, mesmo assim haveria um gap (intervalo) nos dispêndios que poderiam impactar os serviços de saúde;

* Uma queda nos gastos do RU com saúde poderiam representar uma dramática demanda para a indúsria ligada às ciências da vida, incluindo as empresas farmacêuticas e as que suprem o mercado de média tecnologia. Para os fornecedores de insumos aos serviços de saúde, o RU poderia tornar-se um mercado mais difícil de penetrar. Isso poderia não apenas impactar esses fornecedores, mas também aos pacientes que poderiam não mais ter acesso a todas as opções de tratamento;

* A atenção à saúde é um negócio que funciona na base de regulações, algumas das quais de alcance nacional, mas muitas delas são operaiconalizadas dentro de um quadro de referência da União Europeia. Para as empresas fornecedoras de medicamentos o Brexit poderia romper tudo em relação ao desenvolvimento de produtos, aprovação de contas, preços e reembolsos, assim como a movimentação de mercadorias. Poderia trazer um período de incertezas que inevitavelmente deprimiria os negócios;

* A posição atual do RU como um ponto de referêcia do mercado europeu poderia ser minada. Isso teria um efeito multiplicador para os investimentos, particularmente para empresas não-UE;

* Quanto ao Sistema Ncional de Saúde - NHS - há uma relação de confiança com trabalhadores e expertise de outros países (non-UK workers and skills). Trabalhadores, profissionais e funcionários europeus hoje empregados no Reino Unido provavelmente não seriam solicitados a ir embora, mas a contratação de pessoal novo poderia tornar-se mais difícil e mais caro;

*  Ru poderia perder peso como um centro para pesquisa&desenvolvimento e transferência tecnológica. Fundos britânicos para pesquisa poderiam não substituir suficientemente os recursos da União Europeia, especialmente em termos de benefícios da cooperação internacional.

Embora muitas dessas consequências possam ser mitigadas no longo prazo, vemos pouco espaço para uma visão otimista em relação ao setor de atenção à saúde se o Reino Unido votar pela saúda da EU. Novidades sobre o Brexit poderiam trazer imediata ansiedade, tanto para os serviços (Sistema Nacional de Saúde, prestadores privados, cuidados domiciliares) e para o sistema de fornecedores (produtos farmacêuticos e de tecnologia intermediária). Para pesquisadores e a Academia, as consequências seriam menos imediatas, mas com implicações de longo prazo para o sucesso do RU como uma base de pesquisa inovadora.

Monitorar o risco é agora a prioridade para as organizações setoriais e isto envolve auditorias de largo espectro. Fornecedores precisam identificar seus produtos – tanto no mercado quanto nas fontes de suprimento – que poderiam ser diretamente afetados, com sinais vermelhos para aqueles enfrentando as maiores incertezas. Isso poderia capacitar as equipes a ter clareza acerca dos projetos que exigem monitoramento, e quais podem ser tocados normalmente. Em termos de risco organizacional, as equipes também precisam ser revistas. Seria bom checar as condições de imigração para identificar aqueles funcionários-chave que poderiam perder o direito de permanecer no Reino Unido, assim como os britânicos que podem precisar ser realocados. Desde que tais riscos tenham sido identificados, as empresas terão de esperar pela votação para ver o que o Reino Unido decide. Para o que quer que aconteça, todavia, haverão ramificações - econômicas, políticas, regulatórias – que irão requerer contínuo monitoramento mesmo depois do 23 de junho

Comentários

Para o The Economist, a Saúde, ou a atenção à saúde é vista como um componente do mercado. Raramente dá ênfase, em suas análises, a aspectos fundamentais como o acesso de todos ao sistema e aos seus resultados em termos de níveis e padrões de saúde da população, seja no passado seja agora ou no futuro. A EIU – The Economist Intelligence Unit – vem trabalhando em íntima conexão com a Organização Mundial da Saúde apoiando os esforços de implantação de modelos de Cobertura Universal (Universal Health Coverage), considerandoos como uma magnífica oportunidade para ampliar os negócios num setor cada vez mais relevante, caro e lucrativo.

A análise da EIU a respeito do Brexit é fortemente crítica, pelo que o documento faz considerações negativas a respeito da hipótese de que o Reino Unido se afaste em definitivo da União Europeia. Os cenários traçados são de forte preocupação, pelo que alerta as empresas que atuam no setor saúde para os desafios e incertezas que poderão concretizar-se após o 23 de junho.

É preciso dizer que o estudo feito pela EIU é, como sempre, de alta qualidade e de grande valia para quem se preocupa e estuda os sistemas de saúde mundo afora.

Sem dúvida haverá um terremoto tanto na área política quanto na econômica se o Brexit for, de fato, aprovado. Não obstante, em termos de saúde pública e do interesse fundamental da população, o Sistema Nacional de Saúde – (NHS, National Health System) poderá ter significativos ganhos caso de fato tudo isso signifique a remoção dos conservadores e do 1º Ministro David Cameron do poder. Não que o Brexit – que parece ser uma renomada loucura – seja algo positivo, longe disso. Mas a interrupção do desmanche do NHS – que Margaret Thatcher tentou e agora Cameron faz o possível para efetuar – certamente representa um inestimável serviço que precisa ser prestado ao povo inglês. se seguirão e formula hipóteses e linhas possíveis de ação .

Tags: [Atenção à Saúde, National Health System, Rein Unido, saúde, Sistema Nacional de Saúde]