Enquanto, num esforço desesperado da ONU, as partes estavam reunidas em Genebra na tentativa de costurar uma paz ou uma trégua na guerra que consome a Síria, o presidente Al Assad e as forças russas enviadas por Vladimir Putin aproveitaram-se de que a guarda “inimiga” estava recolhida para desfechar um ataque absurdo e extremamente letal sobre o ponto mais nevrálgico da cidade de Aleppo, principal foco das forças que combatem o regime sírio.
Primeiro algumas bombas foram lançadas sobre casas e edifícios em uma área civil de Aleppo, uma cidade que já teve cinco milhões de habitantes, onde hoje residem apenas 250 mil sobreviventes. O curto intervalo que seguiu apenas permitiu a remoção dos feridos para o hospital al-Quds da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) que é a derradeira referência regional em atendimento pediátrico. Quando todos os médicos e funcionários se concentraram na prestação de cuidados aos novos pacientes, veio o segundo e mais devastador ataque, com dois mísseis que precederam as “bombas de barril”, também conhecidas como bombas de vácuo, de calor e pressão ou termobáricas que ao tingirem o solo liberam uma nuvem de aerossol e centenas de afiados fragmentos metálicos que de maneira indiscriminada atingem as pessoas em volta num amplo raio de morte.
Esses artefatos, por seu imenso poder destruídos e reduzida precisão em relação ao alvo são enfaticamente proibidas como arma de guerra. Perguntado sobre seu uso o presidente Assad respondeu que “bombas são bombas”.
Entre as cerca de 50 vítimas fatais estavam vários componentes das equipes dse saúde e de ajuda humanitária, além de Wasem Maas, o último médico pediatra que, trabalhando sem qualquer remuneração, ainda permanecia no hospital. Passadas outras vinte e quatro horas, uma clínica próxima, para onde haviam sido emergencialmente transportados alguns dos feridos e doentes do al-Quds, também foi bombardeada.
Na verdade, trata-se de uma ofensiva de sírios e russos destinada a retomar o controle de Aleppo mesmo que para tanto seja necessário arrasá-la por inteiro.
O chefe da missão dos MSF no país, Muskilda Zancada, prguntou onde estão as autoridades que se haviam, mais de uma vez, comprometido a não atacar e a proteger as instalações da ONG, classificando a situação como um desastre humanitário sem precedentes. Isto parece o apocalipse, informou ao The Guardian por telefone um vereador da cidade, Bara Abu Saleh, com o ruído de explosões sendo ouvido ao fundo.
De acordo com nota divulgada pelas forças russas que apoiam o regime de Assad, as conversações de Genebra devem ser encerradas em 10 de maio próximo. Há um cessar-fogo em vigência, mas Damasco explicou que não inclui Aleppo, porque lá os rebeldes continuam atuando com o suporte de forças curdas. O resultado, uma instabilidade permanente, tem como efeito – segundo Staffan de Mistura (enviado da ONU), que na Síria um civil é assassinado a cada 25 minutos.
[caption id="attachment_2924" align="alignleft" width="243"] Resultado de bombardeio por forças russas em Aleppo (imagem: www.Torontotelegraph.com).[/caption]