Impeachment de Dilma e o muro inútil

abril 18, 2016.

[caption id="attachment_2898" align="alignright" width="300"]Comemoração do 342º voto pró-impeachment de Dilma Rousseff no gramado ao lado do Congresso Nacional (foto: Fabio TRodrigues Pozzebom/Agência Brasil) Comemoração do 342º voto pró-impeachment de Dilma Rousseff no gramado ao lado do Congresso Nacional (foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)[/caption]

Para decepção dos que previam um grande confronto na Esplanada dos Ministérios neste 17 de abril de 2016 em Brasília, não houve guerra. O Brasil foi às ruas, sim, mas pacificamente, enquanto a grande maioria preferiu ficar em casa e assistir ao espetáculo da votação pelas fartas coberturas proporcionadas por quase todas as televisões, a começar da TV Câmara que - considerando seus limitados padrões - conquistou audiência recorde. E o povo não se decepcionou. Em clima de final de Copa do Mundo - para respeitar a tradição futebolística do país - os votos pró e contra impeachment foram sendo comemorados por torcidas inflamadas até que a derrota do governo mostrou-se inevitável.

O Parlamento brasileiro comportou-se à altura da missão, não obstante o primarismo das intervenções de alguns "Nobres Senhores Deputados" que, ao invés de analisarem as questões em debate, aproveitavam os poucos minutos do voto para homenagearem os filhos, netos, cônjuges e outros políticos já desaparecidos. O comparecimento foi impressionante: dos 513 deputados, somente dois não registraram presença e sete se esconderam atrás da máscara da abstenção. Os outros 504 foram ao microfone e gritaram, alto e bom som, "sim" (concordando com o impeachment) ou "não" (apoiando a manutenção da presidente).

Foi uma surra homérica: 367 votos "sim", ou seja, 71,5% do total, e 137 "não" (apenas 26,7%), superando qualquer dúvida quanto ao desejo da Câmara em se posicionar ao lado do que considerou ser o desejo da esmagadora maioria do povo brasileiro.

Agora o processo seguirá para o Senado Federal, onde uma maioria simples em primeira votação permitirá o afastamento de Dilma Rousseff do cargo por 180 dias. Depois uma nova votação, dessa feita submetida a uma vantagem de 2/3 dos senadores, optará ou não pelo afastamento definitivo com substituição pelo vice-presidente Michel Temer até as novas eleições previstas para 2018.

Acima dos aspectos formais da denúncia apresentava por três juristas, alguns fatores foram decisivos para a decisão de outono simbolizada pela votação em Brasília. O mais evidente é o alto nível de corrupção denunciado nos processos das Operações conhecidas como Mensalão e Petrolão que causaram surpreendentes (por seu volume) prejuízos ao país; em segundo lugar a crise econômica que cada vez mais passou a castigar a população, notadamente suas classes baixa e média, com crescentes inflação e aumentos de preços nas mercadorias à venda e nos impostos. A terceira causa está ligada ao cansaço da população com os exatos 13 anos e 106 dias de mando pelo Partido dos Trabalhadores que, depois de um começo favorecido pelas esperanças de todos de que afinal o Brasil estava se livrando do ranço de governantes muito iguais uns aos outros desde a descoberta em 1500, afundou no descrédito de uma administração de baixa competência caracterizada muito mais pelo aproveitamento da máquina pública em benefício próprio do que pelo alcance de soluções para os problemas reais da nação.

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