Índia desafia a China como nova parceira da África

novembro 03, 2015.

Cada vez mais a Índia se transforma num ator global e não apenas pela pujança de sua economia que hoje já está entre as quatro primeiras do mundo. A comprovar o papel de uma potente base de apoio e sustentação para o mundo em desenvolvimento, a 3ª Cúpula Índia & África realizada em Nova Delhi na última semana de outubro superou largamente as duas precedentes (em 2008 e 2011) que haviam reunido poucos e seletos convidados. Todos os 54 países africanos compareceram à capital indiana para ouvir as palavras do 1º Ministro, Narendra Modi, para quem “as relações comuns, além da política e da economia, fundamentam-se no compartilhamento de uma rica tradição cultural”. A Conferência é um marco histórico para a nação anfitriã, que não sediava um evento desse porte desde a Cúpula dos Países Nâo-Alinhados, 32 anos atrás.

[caption id="attachment_2400" align="alignright" width="300"]Cúpula Índia - África em Nova Delhi - 10/2015 (Foto: International Business Times) Cúpula Índia - África em Nova Delhi - 10/2015 (Foto: International Business Times)[/caption]

A África que vem crescendo numa média de 5% ao ano e hoje tem um PIB total de 2,8 trilhões de dólares para uma população de 1,1 bilhão de habitantes, é vista como o grande motor da economia mundial nas próximas décadas. Pela ordem seus principais parceiros econômicos são China, Estados Unidos, União Europeia e Índia, esta com um comércio de US$ 70 bilhões que até o fim deste ano deve chegar a US$ 90 bi. “Não podemos competir com os US$ 200 bilhões movimentados pela China, mas qualquer envolvimento que tivermos com os africanos, pelo menos dar-lhes-á uma outra chance. Contudo, para desafiar a dominação chinesa no continente, Índia procura afastar-se do que se pode chamar de um ‘relacionamento explorador’ (das matérias primas disponíveis) por parte dos chineses, apostando numa linha que privilegie as necessidades da África e as fortalezas da Índia”, afirmou o analista local de política internacional Raja Mohan do The Observer.

O comércio chinês .tem como eixo dominante a importação de petróleo da Nigéria, Angola, Moçambique, Guiné Equatorial, Gana, Camarões, República do Congo, Gabão, Uganda, Sudão e Sudão do Sul, enquanto os indianos se limitam a Moçambique, Sudão do Sul, Egito e Líbia. Além do ouro negro, Nova Delhi espera competir nos setores de infraestrutura, agricultura, educação e no fornecimento de linhas de crédito.

Para surpresa de Narendra Modi, ao receber dezenove líderes africanos, nada menos que treze deles pediram apoio para iniciativas de contraterrorismo, armando-os para fazer frente às milícias do Boco Haram (recentemente afiliou-se à Al-Qaeda) e do Al-Shabab. Explicitamente, este foi o caso da Nigéria, Quênia, Camarões, Níger, Chade, Lesotho, Zimbabwe, Gana, Somália, Djibouti, Moçambique, Guiné e Gabão. O presidente deste último, Ali Gongo Ondiaba, acrescentou como prioridade o combate a crimes transnacionais.

Como moeda de troca aos desejados investimentos indianos, o Egito ofereceu um corredor de desenvolvimento integrado pelo Canal de Suez e Angola se disse rico em diamantes. Já o Mali convidou Narendra a visitar Timbuktu, patrimônio da humanidade em vias de destruição pelas guerrilhas do Al-Shabab.

O 1º Ministro indiano terminou seu discurso com uma forte ênfase a temas não-econômicos que considera de grande relevância para ambos os lados: tecnologia verde, blue economy (sustentabilidade, meio ambiente, etc.), tecnologia espacial, educação, desenvolvimento de habilidades e artes, atenção à saúde, segurança alimentar, conectividade, politicas de paz e segurança, acenando com o apoio à ambição da África em contar com um assento no Conselho de Segurança da ONU.  (VGP)

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