Hora da paz para a Colômbia

setembro 24, 2015.

O aperto de mão entre Manoel Santos e Rodrigo Londoño Echeverri (ou Timoleón Jiménez ou Timochenko), sob as bênçãos de Raul Castro nesta 4ª. feira 23 de setembro de 2015 aconteceu no salão protocolar de El Laguito - o bairro de luxo de Havana que acomoda visitantes de alto padrão – e tem tudo para representar, finalmente, o esgotamento da mais longa guerra de guerrilha do planeta, com data marcada para a paz em 23 de março de 2016. Dois meses depois as Farc se comprometeram a deixar as armas. O compromisso, do qual se espera dessa feita não voltarão atrás, foi firmado na presença dos países garantidores – Noruega, Cuba -, dos acompanhantes formais - Chile, Venezuela (e dos informais: Equador e Uruguai) – e do enviado especial dos Estados Unidos, Bernie Arnson que, por sinal, esteve muito ativo durante as derradeiras negociações. Sem esquecer do impulso final dado em suas falas desta semana em Havana pelo papa Francisco, às quais o presidente colombiano esteve presente.

Conto, de maneira resumida, a história inicial do conflito em meu livro “Guerra en los Andes” (Ed. AbyaYala, 2ª. edição, Quito, 2008). As atuais guerrilhas têm origem nas batalhas internas que sacudiram o país a partir da década de 1960, quando apareceram o Exército Popular de Liberação (EPL), o Exército de Liberação Nacional (ELN) e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) de Manuel Marulanda Véliz, o Tirofijo, estas em 1966. A divisão do mundo comunista entre URSS e China reproduziu-se na Colômbia colocando em campos opostos as Farc, a favor dos soviéticos, e os “helenistas” pró-Pequim. O clima de crescente enfrentamento entre os guerrilheiros e o governo teve um momento de alívio na administração de Belisario Betancur, presidente que logrou em 1984 efetivamente firmar uma trégua e um cessar fogo geral, mas logo o Congresso Nacional negou-se a dar apoio aos esforços pacifistas do Executivo dando motivo a que os grupos de esquerda voltassem gradualmente à clandestinidade.

Com um passivo, apenas nas últimas três décadas, de 6,8 milhões de vítimas, afinal as Farc e o governo colombiano instalaram uma Mesa de Negociação em Havana em 19/11/2012. Cinco acordos parciais firmados desde então, entremeados pelo testemunho à Mesa de um primeiro grupo de cinco vítimas em agosto de 2014, alcançou importantes avanços este ano, com as Farc renunciando ao recrutamento de menores de 17 anos e a constituição de um pelotão conjunto de especialistas do Exército e da guerrilha em desativação de minas terrestres. Para lembrar que ninguém estava brincando, 11 militares foram abatidos num ataque letal desferido pelas Farc em abril, ao qual se seguiram bombardeios que mataram 26 guerrilheiros, mas uma semana atrás as Farc anunciaram que estão prontas a converter-se em movimentos políticos.

A base principal para o acordo firmado por Santos, Timochenko e Raul Castro é o Sistema Especial para a Paz, que regula a fórmula de justiça transicional e restauradora, indicando como se dará o julgamento e a penalização dos delitos de guerra. O governo comprometeu-se a que a justiça seja aplicável não só aos membros da guerrilha, mas a todos que cometeram crimes ao longo do confronto, sejam eles das Farc, da Força Pública ou mesmo não combatentes.

Saindo da discussão infinita sobre se haveria suficiente justiça ou excessiva impunidade, o povo colombiano e o mundo agora vislumbram uma oportunidade real para que se faça a paz. Esperamos todos que o cronograma definido se cumpra por inteiro e que em 23 de maio do ano que vem estejamos afinal livres da Guerra nos Andes. (VGP)Manoel Santos, Raul Castro e Timochenko firmam o que deve ser a paz na Colômbia. Havana, 23/9/2015

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