Grécia insiste com Tsipras

setembro 21, 2015.

Os gregos do século XXI parecem ter esquecido os tempos da ética e da moral de Aristóteles,  os ensinamentos de Homero ou de Clístenes, o Pai da Democracia. Pelo contrário, além de contumazes na prática de severos erros em sua economia, deram ultimamente para escolher os mais estranhos líderes e partidos políticos, submetendo-se ao seu comando mesmo depois que os caminhos e políticas aconselhados e adotados resultam em fracassos espetaculares. Em janeiro deste ano decidiram substituir os tradicionais e desastrosos governos neoliberais  e optaram pelo partido mais às esquerda do espectro político nacional, o Syriza, uma espécie de PSOL grego que colocou seu líder, o jovem Alexis Tsipras, como Primeiro Ministro. Em meio a fortes turbulências com ameaças de abandono da zona do euro e intensa pressão da União Europeia (UE),  em obediência às linhas mestras do partido, buscaram apoio no povo por meio de um plebiscito cujo resultado majoritário foi a opção favorável a uma posição de resistência nacionalista frente às drásticas medidas de restrição econômica impostas pela UE através do Banco Europeu, do FMI e de instituições financeiras do gênero.

Para surpresa da militância do Syzira, poucos dias depois ficou claro para todos que Tsipras, tal qual um Lula helênico, sentia-se obrigado a aceitar as exigências da UE liderada pela alemã Angela Merkel, colocando o país numa desesperadora recessão. A reação corporativa não se fez esperar. Num momento crítico em que a Grécia precisava demonstrar seu compromisso com o continente adotando as duras resoluções que lhe haviam sido impostas, a ala mais radical do governo composta por membros do Syriza negou seu apoio pedindo demissão e deixando Tsipras e seu ministro da Economia com o pincel na mão. Não lhe restou alternativa senão a de, num regime parlamentarista, renunciar, após menos de sete meses no poder. Num regime sustentado por coalizões políticas não houve como formar um novo e forte governo, pelo que eleições gerais tiveram de ser convocadas e se realizaram neste domingo 20 de setembro.

Cansados de tanto irem inutilmente às urnas, boa parte dos eleitores gregos resolveu ficar em casa. Apenas 56% dos inscritos compareceu aos locais de votação, o nível mais baixo das últimas décadas (foi de 64% no pleito de janeiro deste ano), e mesmo mantendo o padrão de forte divisão que hoje caracteriza a sociedade grega, uma vez mais deu a vitória ao Syriza que triunfou com 35% dos votos contra 28% dados ao partido centrista e conservador Nova Democracia – NDP. Num Parlamento de 300 cadeiras, pelas regras atuais 145 cadeiras caberão ao Syriza e 78 ao NDP.

Para obter a maioria que lhe permitirá governar, Tsipras já firmou aliança com Pannos Kammenos que comanda o partido direitista Gregos Independentes o qual, por ter alcançado 3,7% dos votos disporá de 10 cadeiras. Repete-se, assim, a coalizão que vinha governando até o momento da renúncia, mas com outros ministros a fim de isolar o grupo trotskista que provocou o recente conflito interno no Syriza. É uma situação muito instável, baseada numa maioria de 51,66% dos parlamentares. Uma possibilidade para o futuro próximo seria uma composição com a Nova Democracia (é algo como uma mescla entre PMDB e DEM), até aqui negada por Tsipras, mas ao que tudo indica inevitável após a primeira ou segunda crise ainda este ano. (VGP)

[caption id="attachment_2224" align="alignright" width="300"]Alexis Tsipras 1º Ministro da Grécia, volta ao poder Alexis Tsipras 1º Ministro da Grécia, volta ao poder[/caption]

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