Presidente decide sair...na Guatemala

setembro 04, 2015.

O desfecho foi rápido, a partir da acusação formal pela Procuradoria da República treze dias atrás de que o presidente guatemalteco Otto Pérez Molina, no escândalo denominado de La Línea, chefiava uma rede clandestina na Superintendência de Administração Tributária federal, a SAT, para saquear os cofres públicos. À ½ noite desta 4ª. feira, 2 de setembro, ao assinar a carta de renúncia Perez Molina tornou-se o primeiro chefe de Estado a fazê-lo neste país de 1,5 milhão de habitantes que ainda cura as feridas deixadas por uma guerra civil a qual, durante 36 anos – de 1960 a 1996 –, ensanguentou a América Central e justificou a concessão do Nobel da Paz de 1992 a Rigoberta Manchú. Sete horas depois, com a 5ª. feira mal começando, o Congresso reuniu-se e aceitou a renúncia que a própria Casa provocara na 3ª. ao retirar, pelo voto unânime de seus 132 deputados, a imunidade que protegia o mandato presidencial.

[caption id="attachment_2253" align="alignright" width="300"]Pérez Molina ao renunciar à presidência da Guatemala (foto: William Gularte - El Periodico, Ciudad de Guatemala, 2/9/2015) Pérez Molina ao renunciar à presidência da Guatemala (foto: William Gularte - El Periodico, Ciudad de Guatemala, 2/9/2015)[/caption]

Eleito pelo partido Patriota com 54% dos votos para um mandato de quatro anos que terminaria em 1º de janeiro próximo, derrotou o empresário Manuel Baldizón com uma plataforma prevendo duro combate à violência criminal comandada pelo narcotráfico neste começo de século XXI. Pérez Molina declara-se inocente. Numa rara e corajosa declaração, disse: “poderia ter saído do país, pedir asilo, pois como presidente disporia de muitas ferramentas para tanto, mas decidi submeter-me à Justiça e dirimir minha situação pessoal com a convicção de fazer o correto”.

A vice-presidente Roxana Beldetti, também eleita, está presa desde 21 de agosto e agora será a vez de Molina, o 6º presidente latino-americano  renunciante desde 2001, quando Fernando de la Rúa abandonou o governo argentino. Seguiram-se Gonzalo Sánchez de Lozada em 2003 na Bolívia; Lucio Gutiérrez em 2005 no Equador; Manuel Zelaya em 2009 em Honduras e Fernando Lugo em 2012 no Paraguai.

Há uma febre de combate à corrupção na Guatemala, comprometendo boa parte dos componentes do governo, do Legislativo e dos candidatos que neste domingo concorrem a eleições gerais para escolher novos presidente e vice, 338 prefeitos municipais, 158 deputados e 20 representantes nacionais no Parlamento Centro-Americano, num pleito a ser realizado já sob o comando do mandato-tampão exercido pelo veterano juiz Alejandro Maldonado Aguirre.

Do total de quatorze candidatos à cadeira presidencial, três têm chance de passar para o 2º turno, considerando que nenhum deve alcançar os 50% dos sufrágios de modo a decidir a parada de imediato. O favorito é o perdedor do pleito anterior, o advogado Manuel Baldizón, 45 anos, do partido Libertad Democrática Renovada (Líder) com perto de 30% das preferências segundo as últimas pesquisas; enfrentando a ex-1ª. Dama Sandra Torres, 59 anos (divorciou-se, para poder concorrer, de Álvaro Colom), do Unidad Nacional de la Esperanza – UNE com 18% e o ator de cinema e TV Jimmy Morales, 46 anos, da Frente de Convergencia Nacional, 46 anos, com 25%. Sobre todos acumulam-se denúncias de toda ordem, fazendo prever reduzida participação do eleitorado e um significativo volume de votos nulos.

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