Vinhos brancos para hoje e para sempre

junho 07, 2015.

Lembrando que moro num país tropical, como já dizia Wilson Simonal, bonito por natureza e onde em fevereiro – para seguir com a rima - tem carnaval, continuo achando que nenhuma bebida, à exceção óbvia da cervejinha hiper gelada, é mais compatível com o nosso clima do que o vinho branco, originado simplesmente do sumo da uva, pois, ao contrário do vinho tinto, nem a casca nem as sementes fazem parte do processo de produção. Escrever uma resenha sobre os melhores brancos disponíveis no mercado é tarefa à qual poucos corajosos se animam a enfrentar, tal a variedade da oferta, da qualidade e dos preços praticados tanto nas boas casas do ramo quanto nos super e nos armazéns de bairro mundo afora. A tentativa, neste texto, é de reunir a informação acessível em relação tanto aos grandes brancos quanto àqueles que geralmente são reservados ao dia a dia.

Há vinhos brancos secos e doces. Estes, com destaque para a região de Sauternes no sul da França e para os saborosos icewines canadenses, destinam-se ao acompanhamento da sobremesa. Aqui, concentramo-nos nos secos. Por outro lado, temos vinhos brancos de guarda que se alinham ao lado dos melhores do planeta (ai incluídos os tintos, rosés, fortificados) e que, por isso mesmo, são cotados a preços estratosféricos. A maior parte, contudo, destina-se ao consumo senão imediato, certamente poucos anos depois da data em que a garrafa chega às prateleiras ou à sua adega. As variedades de preferência são chardonnay - de longe a uva mais popular -, sauvignon blanc, riesling, gewurztraminer. No entanto, os brancos produzidos com pinot grigio (uva similar à pinot noir que proporciona vinhos de médio corpo com aroma a pera e grande mineralidade) permanecem como a segunda variedade mais vendida entre os brancos apesar de sua escassa presença no Novo Mundo.

O paraíso da chardonnay é a região da Borgonha francesa. O Romanée Conti Montrachet, tido como a maravilha branca e aclamado como o melhor branco produzido na França, deve parte de sua fama a Alexander Dumas que há um século disse que deveria ser bebido de joelhos com um chapéu na mão para poder agradecer a cada gole. Hoje são produzidas não mais de 3 mil garrafas por safra. Dois outros exemplos do mesmo terroir são o Domine Laflaive 2010 Chardonnay Bâtard-Montrachet e o Bouchard Père & Fils 2007 Chardonnay Montrachet, ambos com a recomendação de que devem aguardar ao menos dez anos antes de serem consumidos. Não muito distante dai está Chablis com seus chardonnays inigualáveis entre os quais cabe citar o maior produtor, Château La Chablisienne com destaque para o seu Château Grenoville Gran Cru 2010, um ano realmente extraordinário para os vinhedos da Borgonha. Outros ótimos exemplos de Chablis: William Fèvre 2005 Les Clos, tido como o maior dos Grand Crus de Chablis (guarda de 10 anos ou mais), Domaine Christian Moreau 2012, Domaine Louis Moreau 2008 e outro Grand Cru, o Pascal Bouchard 2012. Um pouco mais ao sul, em volta da cidade de Dijon, mais especificamente em Nusigny, estão produtores de qualidade como Louis Jadot e Joseph Drouhin (normalmente encontrados inclusive em Brasília). A Chardonnay é a uva de preferência nos Estados Unidos, com preços mais convidativos que os top Crus franceses, e vários produtores cujos vinhos costumam ser consistentemente bons, como Lynmar Estate no Russian River, Rombauer Vineyards e Kistler Vineyard no Napa Valley, Califórnia.

Embora Bordeaux seja conhecida por seus grandes tintos, em Pessac Leognan há preciosidades como o rei de todos os brancos da região, o Haut Brion Blanc, também famoso por ser o mais caro: feito com Sauvignon Blanc e Semillon, pode envelhecer por décadas e custa em volta de US$ 1.200 a garrafa. Não há como esquecer os grandes Rieslings, de modo especial os provenientes de áreas de clima bastante frio como na região da Alsácia francesa, do Claire Valley da Austrália, da Áustria e da Alemanha; ou os grandes Sauvignons Blanc fora da Europa - da Nova Zelândia e da Califórnia, p.ex.

Saindo do estreito circuito dos mui aclamados brancos, cada vez mais magníficos e competitivos vinhos são ofertados por outros países. A uva Grüner Veltliner responde por 1/3 das plantações da Áustria, onde é a variedade mais popular. Com aromas típicos de maçã, pêssego e frutas cítricas é encontrada também na Rep. Checa e na Eslováquia. O Guia Lo Mejor del Mundo ao nomear seus Top 10 colocou em 1º lugar o FX Pichler Grüner Veltiner Kellerberg Smaragd da austríaca Viña Modélica, com aroma a frutas como melão e manga, resultando num vinho cremoso e de intenso final classificado como "sublime". Um exemplo interessante é o de Portugal onde a combinação entre duas castas tipicamente alentejanas - Arinto e Antão Vaz - fornece alguns dos brancos mais reconhecidos no país e mais adaptáveis ao clima brasileiro, com destaque para o Esporão Reserva Branco 2010, Pato Frio Selecção 2010 de Ribafreixo, Tapada do Fidalgo 2012 do Monte dos Perdigões, Cartuxa branco e o Paulo Laureano Reserva branco. Pouco citado entre os grandes, um caso à parte é o Jacobs Creek Chardonnay do sul da Austrália, que ganhou do livro “1001 Vinhos para beber antes de morrer” (Ed. Sextante, 2008) o seguinte comentário: “Ninguém faz um chardonnay melhor”. Na Argentina, um ranking do crítico Stephen Tanzer destacou dois produtos da Catena Zapata: Chardonnay White Bones e Chardonnay White Stones da Adriana Vineyard 2011. A revista Decanter, por seu turno, premiou três vinhos chilenos: Cipreses Vineyard Sauvignon Blanc 2011 da Viña Casa Marín, Outer Limits Sauvignon Blanc 2011 da Viña Montes e Aconcagua Costa Chardonnay 2011 da Viña Errazuriz.

No caso brasileiro, onde o que há de melhor se concentra nos espumantes e nos tintos da casta merlot, o Anuário Vinhos do Brasil concedeu as notas mais altas entre os brancos para o Aurora Chardonnay 2012 e Don Abel Reserva Chardonnay 2011, ambos da Serra Gaúcha;  Salton Virtude Chardonnay 2009 de Bento Gonçalves; Sanjo Núbio Sauvignon Blanc 2012 da Serra Catarinense e para o RAR Gewurztraminer 2011 de Campos de Cima da Serra. Bom proveito!

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