"Tribunal" condena 106 no Egito

maio 20, 2015.

O Judiciário egípcio, como de costume, faz o que o marechal manda. O problema é que as vezes exagera, como no último sábado quando sentenciou à morte de uma só tacada a 106 membros da Irmandade Muçulmana ou simplesmente adeptos do islamismo. Entre eles estão Mohamed Morsi, o primeiro presidente democraticamente eleito no país e Mohamed Badie, o principal líder do Partido da Liberdade e da Justiça, a agremiação política pela qual Morsi concorreu em 2012.

"Infelizmente o presidente eleito pelo povo foi condenado à morte. O Egito volta ao Egito antigo", disse Recep Erdogan (presidente da Turquia) acusando o Ocidente de ter fechado os olhos ao golpe militar que em julho de 2013 derrubou Morsi após treze meses de instável governo. Mais um ano se passou e uma nova eleição em junho de 2014, dessa feita pró-forma, entregou o poder ao marechal e ex-comandante maior do Exército Abdel Fattah al-Sisi que considera como sua missão erradicar a Irmandade Muçulmana da terra dos faraós. Com a oposição ausente das urnas ele recebeu 96,9% dos votos para um mandato estendido para sete anos que pode ser renovado por mais sete. Desde o Golpe de Estado o país acumula um recorde de 3.143 mortos e 19 mil detidos por razões políticas.

As condenações ainda são preliminares, pois serão submetidas em 2 de junho próximo ao Grande Mufti, a maior autoridade religiosa do país. Uma vez sacramentadas seguem para a emissão das sentenças definitivas. Sob crescente pressão internacional, al-Sisi pode "sugerir" (na verdade ordenar) ao Tribunal que converta algumas ou todas as sentenças capitais em prisão perpetua, ganhando pontos em termos de simpatia popular por sua demonstração de magnanimidade. Sem qualquer carisma como líder, Morsi - então escolhido como candidato por falta de outras opções diante das restrições impostas por uma lei eleitoral sumamente parcial, feita exatamente para evitar o surgimento de líderes na oposição - de 63 anos, viu seu prestígio crescer desde que está atrás das grades.  O povo egípcio, que fez a revolução na Primavera Árabe de janeiro de 2011 derrubando a ditadura de Osny Mubarak, hoje sabe que não tem direito a manifestar-se livremente diante da certeza de que toda e qualquer manifestação contrária ao poder militar será reprimida drasticamente._72789808_7aa0f469-5996-4dae-a89c-9b84967fece8

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