Colômbia e Farc falam de paz e fazem a guerra

abril 15, 2015.

"Llegará el momento del desprendimiento total de las armas de las Farc", declarou Pastor Alape, porta-voz das Fuerzas Armadas de Colombia, referindo-se pela primeira vez à possibilidade de que o grupo guerrilheiro, que já leva mais de 60 anos de enfrentamento com o estado nacional do país, definitivamente abandone o confronto militar assumindo seu papel como grupo de oposição política regular.

Pastor Alape, segundo noticiou a revista Semana, referiu-se à intenção do grupo guerrilheiro de deixar as armas caso o processo de paz em curso tenha êxito. "Llegará el momento del desprendimiento total de las armas de las FARC, eso está claro para nosotros. No le tenemos temor a eso, siempre y cuando se den las garantías políticas para que los movimientos políticos de oposición podamos funcionar”, disse o porta-voz das Farc em Havana.

Menos de quarenta e oito horas depois, um ataque da coluna Miller Perdomo das Farc utilizando metralhadoras, granadas e bombas, nas montanhas do departamento de Cauca deixou onze militares mortos (dez soldados e um suboficial) e dezessete outros gravemente feridos. No último domingo em combate que colocou frente a frente uma Força Tarefa do Exército Nacional e combatentes da Frente 18 das Farc na localidade de Ituango (Antioquia), morreram dois soldados e cinco resultaram feridos.

Enquanto as conversações de paz iniciadas em novembro de 2012 prosseguem sob intensa supervisão e farta cobertura da mídia internacional em Havana, está em plano vigor (desde dezembro do ano passado) um cessar-fogo unilateral e indefinido declarado pelas Farc. Em paralelo, Obama e Raúl Castro trocam cumprimentos e sorrisos na Cidade do Panamá e Vladimir Putin anuncia o envio de armas ao governo venezuelano que inevitavelmente serão em parte repassadas à guerrilha colombiana.

Prosseguindo o jogo de faz-de-conta, Timoleón Jimenez, o Timochenko – Número Um na hierarquia das Farc – afirmou ontem, com pleno conhecimento dos acontecimentos acima referidos, que “os diálogos de paz com o governo não podem ser rompidos por nenhum motivo”. As declarações de Timochenko foram uma resposta, desde a capital cubana onde reside a maior parte do tempo, às manifestações de grandes massas de militantes de esquerda pelas ruas de Bogotá, Medellin e outras cidades do país em apoio às tratativas de paz. No comunicado reitera a “total disposição para encontrar saídas comuns que reflitam o caráter pacífico e dialogado da solução ao longo conflito em que há mais de 50 anos vive o país” e que, cabe acrescentar, já deixou mais de 220 mil mortos e 5,3 milhões de desalojados de seus lares.

Por seu turno, o presidente Juan Manuel Santos ordenou a retomada dos bombardeios nas áreas onde se concentram os cerca de 8 mil homens que hoje compõem a força remanescente das Farc. “Lamento a morte de soldados em Cauca. Esta é precisamente a guerra que queremos terminar”, escreveu Santos em seu twitter. Já o Defensor do Povo, Jorge Otálora, sem mais o que dizer, repetiu que “resultam inaceitáveis (???) as infrações ao direito internacional humanitário a esta altura dos diálogos”.

E assim prossegue o circo das intermináveis e tortuosas reuniões de Havana, acumulando vítimas e sem prazo para chegar a um final, qualquer que seja.

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