Crise na Petrobrás: repercussões internacionais - Economia brasileira no limite (Boletim nº 11 - 02/4/2015)

abril 03, 2015.

The noise from Brazil? An economy on the brink- The Guardian

O ruído que vem do Brasil – uma economia no limite (The Guardian – business - Alberto Nardelli)

Texto publicado pelo londrino The Guardian em sua sessão dedicada aos negócios resume bem o momento vivido pela economia brasileira e em especial pela sua principal empresa pública, a Petrobrás.

“Quanto mais você olha para os fundamentos brasileiros, mais atolado o país parece. São as bases econômicas que estão em risco de ruir por terra como pedras de um dominó. Quiando uma economia latino-americano enfrenta problemas um bom lugar para começar a análise é o seu nível de inflação. No Brasil hoje está em volta de 7,5%. Embora muito distante dos 2.000 – 3.000% do começo dos anos 1990, quando o preço de qualquer coisa subia várias vezes a cada semana, é bem superior aos 4,5% que o Banco Central estabelece como meta. Há pouco, num esforço para manter a inflação sob controle o Banco Central aumentos a taxa de juros para 12,75%, o mais alto dos últimos seis anos.

O problema é que o país está elevando as taxas de juros e tentando frear as altas de preços num momento em que a economia está no limite da recessão. Entre 2002 e 2008 a economia expandiu-se a 4% ao ano. Desde então manteve uma média inferior a 2%  e o PIB tem previsão de contrair-se em 0,5% este ano.

[caption id="attachment_1854" align="alignright" width="300"]The Guardian - London The Guardian - London[/caption]

Inflação alta torna as coisas piores de duas maneiras. Primeiro, preços altos retraem o poder de compra dos consumidores. The Economist calcula que cerca de metade do crescimento econômico na úiltima década deveu-se ao consumo. Uma queda nas compras não apenas reduzirá as perspectivas econômicas, mas poderá levar a uma recessão que afetaria a milhões de pessoas tendo em vista que o salaário mínimo está vinculado ao PIB e à inflação. Ademais, os laários tanto no setor público quanto no privado cresceram acima do PIB na última década e agora é improvável que acompanhem a inflação. Aumentos de impostos e dos preços dos alimentos igualmente não ajudam. Não é surpresa que a confiança dos consumidores esteja no seu mais baixo nível desde que começou a ser medida em 2005.

Em segundo lugar, o real está submergindo. Apesar do aumento dos juros, a moeda brasileira chegou a R$ 3,00 por dólar na última 4ª. feira pela primeira vez numa década. Isto coloca pressão adicional nos preços: o custo dos produtos importados sobe – mais notícias ruins para os consumidores. Ainda de acordo com o The Economist, cerca de 50% das exportações brasileiras são compradas por cinco países – China, Estados Unidos, Argentina, Holanda e Alemanha – e o PIB desses países atualmente cresce a metade que há dez anos atrás.

(Subsídios governamentais são menos sustentáveis) – Um problema que o Brasil cada vez mais divide com os países da União Europeia é a dívida. O país deve cerca de U$ 250 bilhões, bem acima dos U$ 100 bilhões de apenas cinco anos atrás. Um real fraco significa que o montante da dívida está se tornando mais difícil de suportar. Cerca de U$ 40 bilhões são devidos para este ano. Oficialmente a dívida pública direta está por volta de 65% do PIB – o mais elevado entre os BRICs.Entretando, conforme a agência de crédito Moody’s, quando o débito indireto é acrescido o montante chega a 100%. Isto se deve às garantias para as empresas públicas.

Nos dois primeiros meses deste ano, 27 empresas brasileiras sofreram uma diminuição em seus ratings, sem que houvesse qualquer upgrade (aumento). Incapaz de tomar empréstimos no mercado privado, as empresas necessitam de fundos governamentais. ...

A fim de financiar empresas e bancos, o governo e os bancos estatais frequentemente emprestam com perdas. Na medida em que os juros da dívida sobre e sob taxas de juros tão altas, esse sistema de subsídios estatais torna-se mais difícil de manter. Nenhuma companhia exemplifica melhor tal desastre nos negócios que a Petrobrás. Envolvida num escândalo de corrupção, o qual engolfou tanto seus executivos quanto políticos do mais alto escalão, os ativos da empresa tem sido congelados e seu rating junto às agências de crédito atingiram seus mais baixos níveis. A Petrobrás é o maior investidor brasileiro, sendo responsável por mais de 10% dos investimentos nacionais e empregando dezenas de milhares de pessoas. Mesmo a presidente Dilma Rousseff reconheceu que o escândalo pode mudar o país para sempre."

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