Chablis para o verão brasileiro

janeiro 03, 2015.

É possível, sim, manter a elegância em pleno verão nessas terras tropicais. Para isso, certamente não há melhor caminho do que assumir no seu dia a dia os prazeres de um bom vinho branco, gelado, mas não em excesso. Na verdade o branco prefere ser servido à temperatura ideal de 10ºC ou 11ºC. Caso você não tenha uma adega climatizada para seus vinhos, use a geladeira que internamente (a não ser que sua porta seja aberta e fechada constantemente) tem uma temperatura entre 4º e 5ºC. O vinho branco necessita cerca de hora e meia para atingir os 11º. Preste atenção, pois no congelador de cima da geladeira a temperatura em geral é de -5º e no freezer entre -18º e -10º. Sempre é possível  socorrer-se do tradicional baldinho de gelo, com um pouco de álcool e sal grosso, nele deixando a garrafa por cerca de 10 minutos para os tintos e 20 minutos para os brancos. Sempre é bom relembrar que vinho não é cerveja e não pode ser servido “estupidamente gelado”.

[caption id="attachment_1504" align="alignright" width="300"]Petit Chabis também é um magnífico Chablis! Petit Chabis também é um magnífico Chablis![/caption]

Não consigo lembrar de um branco mais adequado para o verão brasileiro (e para as demais estações também) do que o impressionante Chablis. Trata-se de um chardonnay que encontrou no terroir dessa pequena cidade a sudoeste de Paris (e sua vizinhança em Auxerre), considerada a porta de acesso para a Borgonha, condições climáticas e principalmente de solo inigualáveis para o seu desenvolvimento. É possível plantar e produzir bons cabernet sauvignons, merlots, até razoáveis pinot noirs mundo afora, mas nunca um vinho que se iguale ao chablis. A razão maior, dizem os especialistas, está  na argila kimmeridgiana proveniente do período jurássico (cerca de 150 milhões de anos atrás) sobre a qual depositam-se há séculos rochas e fósseis muito típicos que ainda lembram as águas do mar que uma vez já cobriram toda a região. O resultado é uma variação de aromas e características que permitem classificar os chablis ai produzidos em quatro tipos:  Grand Cru AOC (Appelation d’Origine Contrôlée – Denominação de Origem Controlada), de máxima qualidade, provenientes da margem direita do rio Serein; Premier Cru AOC; Chablis AOC com a  maior extensão de área plantada, obrigatoriamente em terreno de argila kimmeridgiana como os vinhos das duas classificações acima, e Petit Chablis obtido em vinhedos periféricos assentados em argila portlandiana (Portlandian Clay), originária do mesmo período geológico mas que, embora produza vinhos de alto nível, é considerado de qualidade algo inferior aos AOC.

Sugiro contentar-se com um Chablis AOC ou com um Petit Chablis (a não ser que tenha condições financeiras para adquirir vinhos top), encontrados nas boas casas brasileiras a preços entre R$ 100,00 e R$ 150,00 a garrafa. Classicamente você encontrará um chardonnay  de coloração amarelo-palha, bem estruturado, de longa persistência na boca e com uma complexidade aromática que combina uma acentuada mineralidade com algo de damasco, maçã, pêssego, talvez um pouco lembrando frutas cítricas maduras.

O maior produtor é a Cooperativa La Chablisiènne (reúne mais de trezentos viticultores locais e vende 1/3 das 32 milhões de garrafas anualmente produzidas em Chablis). Há uma variedade de importadores brasileiros onde é possível encontrar ao menos alguns desses vinhos: Interfood, World Wine, Zahil, Vinci, Mistral, Grand Cru. Ou você pode seguir as escolhas de um restaurante como o nova-iorquino 21 Club (na 21 W com a 52nd street) cuja carta de vinhos está entre as três melhores do planeta e que na página dedicada exclusivamente a Chablis  selecionou oito preciosidades: Vielles Vignes, D.E. Defaix 2007 (US$ 66) – 1er Cru Vaillons Vielles Vignes, J Drouhin 2006 ($ 92) – 1er Cru Domaine de Vandom, J Dropuhin 2010 ($ 98) – 1er Cru Montée de Tonnerre, Domaine Michel 2011 ($ 81) – 1er Cru Vaillons, Domaine C. Moreau 2011 ($ 110) – Grand Cru Blanchots Vielille Vignes, Domaine Billaud Simon 2009 ($ 210) – Grand Cru Bugros, B. Defaix 2010 ($ 135) – Grand Cru Les Clos, Domaine C. Moreau 2011 ($ 175).

Para chegar em Chablis pegue o trem TGV na Gare de Lyon e vá para Auxerre via Fontainebleau. São 158 km em linha reta e a viagem é feita exatamente em 1 hora e 51 minutos. A cidade não é grande, mas não deixe de visitar o Musée de la Vigne et du Tire-Bouchon que fica na Domaine Alain Geoffroy, nem de ir a Noyers sur Serein para almoçar no Les Millésimes. Pergunte por um bom conhecedor do terroir e ele o/a guiará na visita pelos vinhedos e locais de produção. Insista em saber quais os queijos que melhor se combinam com cada vinho e à noite vá jantar no Hostellerie des Clos (conforme indicações da revista Adega).

De carro precisará de duas horas na estrada que, depois, poderá leva-lo/a pelo interior da Borgonha, a terra natal do Pinot Noir.

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