Créditos e débitos de Obama no Oriente Médio

setembro 12, 2014.

Barack Obama não saiu do script previamente divulgado e, na véspera do 13º aniversário do 11 de setembro, anunciou ao mundo que irá primeiro degradar e depois destruir o ISIL (Islamic State of Irak and the Levant), colocando-se na liderança de uma coalisão que terá 40 países, mas de imediato conta com Turquia, Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Austrália, Canadá, Polônia e Dinamarca. Avisou, para evitar cobranças de curto prazo, que “vai levar tempo para extrair um câncer como esse”. A base da campanha será a ofensiva aérea no Iraque e na Síria, o bloqueio das fontes de financiamento do Califado, a interrupção do fluxo de militantes jihadistas ocidentais pela fronteira sírio-turca, a reconstituição e rearmamento do exército iraquiano, o enfrentamento direto no solo a cargo de soldados iraquianos, peshmergas (combatentes curdos) e xiitas dos grupos tribais que guerreiam contra os sunitas.

O povo americano e os analistas não acreditam que as medidas a serem adotadas serão suficientes para que alcançar os objetivos traçados pelo presidente. A última pesquisa de opinião do Instituto Gallup indicou que 55% dos entrevistados acham que o Partido Republicano (de Bush) é o melhor para combater o terrorismo, contra 32% para os democratas. Embora Obama possa se orgulhar pela eliminação de Osama Bin Laden, o fato é que a Al Qaeda após ter sido “sistematicamente desmantelada” nos últimos anos, segundo o Pentágono, permanece ativa no Paquistão, na Índia e em vários outros países, mantém as escolas de formação de militantes e  Al Zawahiri, seu chefe principal, segue protegido e com vida. Israel, na condição de principal aliado na região, não obstante sua formidável capacidade militar não consegue destruir o Hamas e o Hezbollah.  É verdade que no momento iranianos, sauditas, norte-americanos, europeus, sírios, turcos, iraquianos, curdos, israelitas e os países do Golfo estão no mesmo lado contra o ISIL, mas as alianças são pouco confiáveis, instáveis por natureza.

Uma vez que bombardeios, drones e ofensivas por terra, mar e ar não conseguem decidir a parada, pressupõe-se que alguns detalhes poderão minar as forças dos terroristas. A principal aposta está nas milícias tribais que pululam o terreno principalmente no Iraque. Por um lado, mesmo os que professam a fé sunita e hoje apóiam os guerrilheiros do ISIL não se sentem à vontade com os métodos e com a extrema rigidez das regras às quais estão sendo submetidos e que não são compatíveis com seus sistemas tradicionais de organização social. Tenderiam, portanto, a abandonar a luta tão logo se cansem dos grilhões impostos pelo Califado. Por outro lado, um dos maiores erros de al-Baghdadi (o “Califa”) foi apostar suas cartas em bandos de novos jihadistas vindos da Europa e que se juntam a selvagens chechenos, líbios, somalis formando uma federação internacional sem coesão nem de princípios nem religiosa, o que os faz entrar em desacordo e logo em choque com os combatentes locais. Vindos de fora, agem como os que sabem tudo, mas os camponeses iraquianos certamente não tem nada a aprender com eles, principalmente em termos de tradição, sobre o islã.

Acrescente-se a esse quadro extremamente complexo, as dívidas empenhadas e ainda não pagas pelos Estados Unidos ao intervir em revoltas na Ásia e na África. O seqüestro de 300 garotas numa escola nigeriana em abril último pelo grupo radical islâmico Boco Haram continua sem solução, apesar da permanência dos vôos de busca quarenta horas por semana na área sob suspeita. Cerca de 60 meninas conseguiram fugir, mas as demais seguem em paradeiro desconhecido. Provavelmente hoje escondido em algum ponto nas florestas do Sudão do Sul, República Centro Africana ou no Congo, Joseph Kony, o líder onipotente do Exército de Resistência de Deus que aterrorizou Uganda, sua terra natal, nunca foi localizado nem detido embora tropas especiais e aviões V-22 Osprey (decolam e aterrissam como um helicóptero) americanos continuem a caçá-lo. As armas químicas da Síria, responsáveis pelo ataque a gás sarin que matou mais de 1400 civis nos arredores de Damasco, já teriam sido neutralizadas conforme anúncio do Departamento de Defesa, mas crescem as evidências de que o governo de Bashar al-Assad está usando gás cloro em áreas com presença de forças rebeldes.

No Afeganistão (alguns teóricos o incluem, para efeitos práticos, no Oriente Médio) ninguém sabe se a retirada das forças de ocupação, cerca de 38 mil soldados remanescentes (do pico de 101 mil em 2011), acontecerá em dezembro deste ano, como prometido por Washington. As dúvidas se justificam, diante do fortalecimento do movimento Taleban, do estado de guerra civil permanente a que está submetido o país e da demora em firmar um novo acordo com o governo afegão. Com tantas dívidas em aberto, conseguirá Obama cumprir num prazo razoável os novos compromissos que está agora assumindo na Síria e no Iraque?

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