Venezuela: ainda não é a guerra civil

março 10, 2014.

A cada novo dia a situação se torna mais e mais caótica na Venezuela, mas isso não significa que o país vizinho esteja próximo do que se poderia caracterizar como uma guerra civil.

Um visitante que chegue ao país para uma curta estada com um pouco de sorte poderá concluir que a normalidade impera. Ele não precisará ir às 4 da manhã para as filas imensas em volta dos mercados e se ficar num bom hotel não sentirá falta dos produtos que escasseiam para o povo venezuelano: farinha de trigo, papel higiênico, carne, açúcar, azeite, verduras,suco de tomate, leite fresco e em pó, frango.Tomará seu café da manhã sem necessidade de lutar na porta fechada das padarias que atendem por uma janelinha e racionam os pedidos, vendendo a cada um nada mais do que seis pães franceses ou meio pacote de pão de sanduíche (algumas oferecem um “combo” que inclui uma baguete, um pão doce e um suco). Talvez estranhe ao ver passar um homem carregando um pesado cilindro de gás que conseguiu por sorte a cinco quadras da sua casa. Até gasolina falta no país do petróleo.Com Nicolás Maduro a Venezuela transformou-se no "hazmerreír" internacional

 A inflação de 51% ao ano é a mais alta do mundo e a criminalidade bate recordes. Morrem 68 pessoas por dia - uma a cada 20 minutos – e cinco cidades venezuelanas (Caracas, Barquisimeto, Ciudad Guayana, Maracaibo e Valencia) estão entre as cinqüenta mais violentas do mundo segundo a ONG mexicana Seguridad, Justicia y Paz. Num país politicamente dividido ao meio parece lógico que cada vez mais haja povo nas ruas protestando, o que causou oito mortes nos últimos dias. Nada que se compare ao “Caracazo” de 25 anos atrás (27 e 28/2/1989), quando um movimento popular contra o aumento das passagens de ônibus foi barbaramente reprimido causando entre 300 (dado oficial) e 3.000 vítimas.

Nicolás Maduro faz uma administração desastrosa, recheada por disputas internas principalmente com seu inimigo figadal Diosdado Cabello, presidente da Assembléia Nacional. Maduro perdeu quase que inteiramente a escassa credibilidade que possuía quando começou a enxergar seu mestre Hugo Chávez na forma de um passarinho saltador ou nas paredes das obras do metrô. Com a poderosa PDVSA, a Petrobrás venezuelana, enfrentando crescentes problemas financeiros, diminuiu o apoio aos demais países bolivarianos da região e aumentou a dependência em relação a Cuba. Em declarações feitas na última 6ª. Feira, Maduro confessou-se preocupado com o ódio cada vez maior dõs seus compatriotas aos cubanos. “Temos 25 mil médicos cubanos e todos os dias os estamos cuidando porque muitos têm sido ameaçados. Anteontem no estado de Aragua um grupo desses médicos foi rodeado por 40 pessoas que queriam queimá-los”, disse o presidente. No total há 40 mil cubanos na Venezuela que em contrapartida fornece 100 mil barris diários de petróleo à Ilha dos Castro. Ultimamente surgiram denúncias de aumento no contingente de oficiais vindos de Havana para a área de segurança que se tornaram figuras comuns nas forças de repressão aos movimentos populares.

Em artigo para a revista Semana de Bogotá, a colunista Silvia Parra considerou que a ajuda da comunidade internacional, tida como cada vez mais necessária, nunca chegará. Para ela, Os EUA, a ONU e a União Européia têm outras preocupações e, afinal, nada têm a ganhar intrometendo-se na América do Sul. No âmbito da OEA, afora os que apóiam Maduro, o Brasil tem tratado a todo custo de evitar o tema, enquanto Canadá, Peru, Chile e México se limitam a expressar suas condolências e a pedir mais diálogo. Na oposição, tanto as declarações pacifistas de Henrique Capriles quanto a espetacular entrega à polícia de Leopoldo López resultaram, pelo menos até o momento, inúteis. Uma reação armada não está nos planos de ninguém, mesmo porque não haveria como enfrentar, de fora, o poderio do Exército, da Polícia e das Brigadas bolivarianas criadas no governo Chávez. Não obstante, a paciência dos venezuelanos está se esgotando.

Tags: []